quinta , 17 de novembro

Educação dos 0 aos 3 anos: PARA QUANDO?

O modo como entendemos a CRECHE bem como o seu papel determina o enfoque do trabalho desenvolvido.

Tradicionalmente a Creche é entendida por muitos como “um mal necessário” e sobretudo um contexto assistencialista e de guarda. Senão vejamos: no contexto português a tutela e os cuidados das crianças dos 0 aos 3 anos pertence ao Ministério do Trabalho e da Solidariedade, enquanto no caso da Educação Pré-escolar, desde 1997 que a tutela pedagógica pertence ao Ministério da Educação. Assim, a educação das crianças mais pequenas é por definição institucional, uma questão de apoio às famílias e de solidariedade social e não uma questão clara do “direito à educação”, consagrado na convenção dos Direitos da Criança.

Os dados da equipa coordenada por Bairrão Ruivo indicam baixa qualidade das creches avaliadas na área metropolitana do Porto. Observações subsequentes vieram enfatizar a baixa qualidade das creches em Portugal, apresentando-se uma conceção tradicionalmente assistencialista, definindo-a como um local de substituição dos cuidados maternos, na qual não era visível a importância do desenvolvimento de um trabalho pedagógico intencional e educativo com a criança.

Todavia, cada vez mais somos alertados para a questão da qualidade do serviço prestado na Creche. Também para nós, Centro Social de Azurva, esta é a nossa maior preocupação e inquietação. Quando falamos em qualidade pensamos na construção de um contexto sensível e estimulante promotor de autonomia, contextos onde os níveis de bem-estar e de implicação/envolvimento das crianças são elevados, onde é dada atenção às experiências e referenciais culturais das crianças, onde as interações são altamente valorizadas, em que há respeito pela “agência“ da criança e se lhe dá voz.

Cuidar de crianças pequenas é por isso uma tarefa muito exigente em que todos devem estar envolvidos, logo a necessidade de enquadrarmos a sua educação numa comunidade. A Creche assume-se assim como um lugar de cooperação entre os educadores e as famílias, apoiando a entrada das crianças no mundo social em que vivem, entendendo esta como um direito da criança e da família.

Reportando-nos à matriz inclusiva do Modelo do Movimento da Escola Moderna, a Creche é também um lugar ”acolhedor de todos na sua diferença”, diferença essa que entendemos como algo que nos acrescenta e valoriza. A Creche transforma-se num contexto de encontro de múltiplas culturas ligadas diretamente à vida e evitando práticas destituídas de sentido, vulgarizadas por modas ou cópias de outros níveis de ensino.

A Creche que temos vindo a construir, tem na sua génese uma visão profundamente educativa onde a cultura constitui o centro da sua atividade. Educar bebés e crianças é um processo de humanização onde através da interação com outros em atividades culturais significativas, nos apropriamos da herança cultural e nos construímos como cidadãos.

 

Sónia Félix

Educadora de Infância

Creche do Centro Social de Azurva


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