terça , 20 de novembro

Educadora pela primeira vez…no Centro Social de Azurva

Espanto, admiração e curiosidade foi o que senti quando entrei no CSA pela primeira vez. Surgiram algumas dúvidas e alguns factos:

Como consegue o CSA fazer este trabalho? Os trabalhos são todos diferentes. Não existe ficha para colorir. As paredes falam! Transmitem dizeres, pensamentos, ideias dos atores principais desta casa – as crianças. A participação destas crianças é real.

Foi fácil perceber que na base deste trabalho assentam Pedagogias Participativas.

O modelo pedagógico “Pedagogia-em-Participação”, que norteia os princípios educativos do CSA, assenta em Pedagogias Participativas, produzindo uma rutura com uma pedagogia tradicional transmissiva em que a criança é vista como “uma tábua rasa, folha em branco, sendo a sua atividade a de memorizar conteúdos e reproduzi-los com fidelidade”. O professor apresenta-se como um “transmissor que geralmente utiliza materiais estruturados para essa transmissão – manuais, fichas, cadernos de exercícios.” (Oliveira-Formosinho) Dewey define um bom aluno segundo a pedagogia transmissiva afirmando que “o bom aluno é o que consegue acelerar a inscrição de conhecimentos…” “…compensar os deficits é tarefa do professor perante os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem.”

 Nas pedagogias participativas “a imagem da criança é de um ser competente que participa com liberdade, agência, inteligência e sensibilidade. A motivação para a aprendizagem sustenta-se no interesse intrínseco na tarefa e nas motivações intrínsecas das crianças. A participação implica escuta, o diálogo, a negociação, o que faz com que a pedagogia da participação seja um espaço complexo, no qual lidar com a ambiguidade, a emergência e o imprevisto torna-se critério do pensar e do fazer”. (Oliveira-Formosinho, 2007) Segundo Dewey na pedagogia participativa, o “bom aluno é o que se envolve pois o seu envolvimento nas atividades e projetos é considerado indispensável para que dê significado às experiências, sendo essencial para que aprenda a aprender”.

Como tive oportunidade de observar desde o primeiro momento em que entrei no CSA, as produções das crianças não são todas iguais; as crianças não andam em “filinha”; as crianças não fazem todas o mesmo ao mesmo tempo - recusando a ideia da “linha de montagem”. Estas características e outras que enquanto educadora em formação continuo a descobrir, demonstram a existência de uma Pedagogia Diferenciada que só é possível através da observação, da escuta e da negociação com as crianças. Entenda-se diferenciar como o assumir da heterogeneidade e a diversidade como riqueza, em que todos têm direito à aprendizagem, em que todos são considerados diferentes, não existindo um padrão ou tabelas padronizadas.

Aos poucos fui entendendo que o “segredo” do CSA está no modelo pedagógico consolidado e bem definido no interior de cada colaborador. Todos trabalham com a mesma finalidade e visão do que é fazer educação! Nesta perspetiva pedagógica, “a adoção de um modelo pedagógico, a partilha quotidiana no seio da comunidade de prática, o pertencimento a uma rede, movimento ou associação pedagógica são as melhores garantias que um grupo profissional (seja a nível individual ou coletivo) tem para sustentar uma autonomia docente. Sendo um importante andaime na procura de um quotidiano com intencionalidade educacional.” E, no entanto, no CSA sente-se a constante necessidade de refletir a prática. Esta reflexão é partilhada e discutida entre a equipa: entre educadoras, entre ajudantes de ação educativas, entre ajudantes de ação educativa e educadores. Segundo Dewey, a reflexão deve estar sempre presente, deve haver reflexão e criação de pontos de vista alternativos que permitam ver “outra luz”.

Deste modo, ao pertencer à equipa educativa do Centro Social de Azurva reconheço que tenho uma oportunidade de evoluir profissionalmente porque me permitirá partilhar e alargar as minhas conceções sobre educação de infância e sobre questões relativas à minha prática pedagógica.


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