A QUALIDADE DA INTERVENÇÃO DO ADULTO É UM FATOR CRÍTICO NA QUALIDADE DA APRENDIZAGEM DA CRIANÇA
A Escala de Empenhamento do Adulto
A construção de um ambiente educativo de qualidade implica uma visão holística de todos os espaços e de todos os tempos e da sua interatividade.
A preocupação dos educadores centra-se geralmente nos espaços da sala de atividades, muitas vezes esquecendo ou descurando os espaços coletivos – refeitórios, salas de receção e entrega, casas de banho, corredores. Nestes locais emerge muitas vezes uma falta de cuidado relativamente ao espaço relacional no qual a criança se move, e são aí visíveis baixos níveis de sensibilidade do adulto nas manifestações de respeito, atenção, afeto, elogio (Bertram e Pascal, 2009). Tal tem repercussões na qualidade do bem-estar das crianças.
Esta conceção alargada do(s) ambiente(s) – como lugares que acolhem, serenos e empáticos - com as necessidades das crianças, sugerem a necessidade de aprender a fazer do ambiente um aliado, quando nos situamos no horizonte ético da Pedagogia-em-Participação (Oliveira-Formosinho, 2011), perspetiva na qual nos situamos no Centro Social de Azurva
A Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular (DGIDC) publicou em 2009 o Manual “Desenvolvendo a Qualidade em Parceria” (DQP), uma linha de trabalho que visa a promoção da qualidade na educação de infância.
Este manual apresenta-se como uma proposta de avaliação da qualidade e da eficácia das aprendizagens das crianças na educação de infância. Os estudos desenvolvidos têm evidenciado que só as práticas de qualidade têm impacto duradoiro na vida atual e futura das crianças, no seu sucesso educativo e na sua integração social.
O DQP é na sua essência um referencial avaliativo. Uma das escalas propostas, a Escala de Empenhamento do Adulto, foi objeto de formação interna para auxiliares e educadoras e é utilizada no Centro Social de Azurva como forma de hetero e auto regulação das interações.
A Escala de Empenhamento do Adulto baseia-se no pressuposto de que a qualidade da intervenção do adulto é um fator crítico na qualidade da aprendizagem da criança. A Escala permite observar os estilos de interação adulto-criança, focalizando-se em três categorias de ação do adulto:
Sensibilidade – a atenção prestada pelo adulto aos sentimentos e bem-estar emocional da criança. Inclui indicadores de empatia, sinceridade e autenticidade.
Estimulação – o modo como o adulto concretiza a sua intervenção no processo de aprendizagem e o conteúdo dessa intervenção. As observações centram-se no modo como o adulto propõe as atividades, como faculta informações e como apoia o desenrolar das atividades;
Autonomia – o grau de liberdade que o adulto concede à criança para experimentar, emitir juízos, escolher atividades e expressar ideias e opiniões. Engloba também o modo como o adulto lida com os conflitos, as regras e os problemas de comportamento.
Os indicadores desta Escala permitem ao adulto uma autovigilância sobre as suas interações, desde o empenhamento total (5) à ausência total de empenhamento (1). Exemplos:
Sensibilidade – o adulto adota um tom de voz encorajador (5)/ tem um tom de voz ríspido (1); respeita e valoriza a criança (5) / fala com outros sobre a criança como se esta não estivesse presente (1);
Estimulação – a intervenção do adulto tem energia e vida (5) / é feita de modo rotineiro (1); estimula o diálogo, a atividade e o pensamento (5) / não corresponde aos interesses e perceções da criança (1);
Autonomia – encoraja a criança a dar as suas ideias e a assumir responsabilidades (5) / é autoritário e impositivo (1); encoraja a criança a resolver os conflitos (5) / aplica as regras com rigidez e não permite negociação (1).
No Centro Social de Azurva entendemos que os adultos que lidam diariamente com crianças e pais devem ser capazes de apreciar de forma crítica a qualidade da educação e das aprendizagens que proporcionam.
Salientamos, assim, a importância de realizar estas observações de forma rigorosa e aberta para que possam constituir um meio eficaz para desenvolver a qualidade das práticas (neste caso ao nível das interações adulto/criança) quer nas salas, quer nos espaços coletivos.
Fonte:
Bertram, T. e Pascal, C.; Coord. Oliveira-Formosinho, J. (2009). Manual DQP - Desenvolvendo a Qualidade em Parceria. Lisboa: Ministério da Educação, DGIDC.