terça , 17 de janeiro

“MAS VOCÊS DEIXAM-NOS FAZER TUDO, É?”

Este comentário surgiu de uma mãe nova no CSA, perante a forma como as crianças se movimentam, quer na sala, quer no próprio Centro. Este tipo de observações merece-nos sempre a maior atenção e reflexão. Nestas ocasiões tentamos tranquilizar os pais, explicando o modo como fazemos pedagogia, como somos e em que acreditamos. Convidamo-los a vir às salas para que possam ver e participar daquilo que diariamente construímos com os nossos meninos.
No tipo de trabalho que desenvolvemos, já aqui o dissemos antes, acreditamos numa criança competente, capaz de colaborar e de agir. A nossa pedagogia é, por isso, uma “pedagogia da complexidade”.
Quem não nos conhece, pode questionar-se como é que um grupo de crianças pequenas consegue chegar a um coletivo harmonioso e coordenado. Pensamos que tal só é possível se cada um na sua individualidade se sentir bem.
A nossa perspetiva pedagógica assume os direitos da criança, mas também as ajuda a reconhecer os seus deveres. Os adultos exercem autoridade quanto baste, legitimada pelo respeito, bom senso e sentido de justiça.
O dia-a-dia traz situações de desorganização, conflitos e alguns atropelos; no entanto, transformamo-los em momentos para aprender. Aqui as crianças estão autorizadas a sujar-se e a sujar e sabem que a seguir irão colaborar na limpeza e arrumação dos materiais que usaram.
As nossas crianças brincam muito no exterior, porque lá fora aprendem coisas preciosas, e porque precisam de descobrir o tempo livre: quando só recebem orientações dos adultos e nunca mandam nos seus minutos, não são crianças… perdem a sua infância. As crianças também têm o direito de serem trapalhonas e andarem com a cabeça no ar: estará lá alguém para as ajudar a saber rir das coisas que não correram tão bem.
As crianças também estão autorizadas a cair. Se não caírem nunca aprenderão a cair e a defender-se das quedas.
Também têm direito ao conflito, a aprender a identificá-lo e a procurar resolvê-lo.
Acreditamos que tudo isto traz ganhos às nossas crianças e às suas famílias. Portanto, não se trata de “deixar fazer tudo”, mas de aproveitar as escolhas e a iniciativa de cada criança de modo a potenciar o seu crescimento, cultivando o brincar e a expressão livre da criança como um potencial rico de aprendizagem na infância.

Mas vocês deixam-nos fazer tudo, é?
Mas vocês deixam-nos fazer tudo, é?
Mas vocês deixam-nos fazer tudo, é?
Mas vocês deixam-nos fazer tudo, é?

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