sexta , 7 de outubro

Heterogeneidade no Pré-escolar

Que mais-valias?


O Tomás (3 anos “acabados de fazer”) e a Inês (5 anos) estavam na área do desenho.
“Ele pediu ajuda!” disse a Inês.
“Podes desenhar aqui uma árvore, um comboio, uma borboleta e umas nuvens?” disse o Tomás apontando para a sua folha.
“E eu desenhei!” – Inês
“Agora fazes tu! Primeiro uma bola, agora umas asas.”
 “Vês, afinal conseguias! (diz a Inês ao ver o Tomás a tentar fazer o que lhe propôs). Segura aqui em baixo, isso! Aqui um risco!”
Ao questionar a Inês sobre o que ela pensava sobre o facto dos meninos pequeninos e grandes estarem juntos ela respondeu:
“Acho que os meninos grandes podem ensinar os meninos pequeninos quando chegam da Creche cá acima.”


O CSA foi, há já muitos anos, umas das primeiras instituições de Aveiro, a implementar grupos heterogéneos no Pré-Escolar porque acreditamos que este era um processo natural, tal como na vida. Era condição fundamental a constituição dos grupos, não por níveis etários mas, de forma vertical integrando as várias idades, para que se pudesse assegurar a heterogeneidade geracional e cultural que melhor garantisse o respeito pela diferença individual através da interajuda e colaboração. Só vivendo a diferença nos tornamos portadores de uma cultura mais vasta e mais plural e por isso nos construímos como pessoas melhores e mais solidárias. A heterogeneidade dos grupos reveste-se para nós como uma oportunidade de enorme valor pedagógico e educativo.
No entanto, esta foi uma questão que suscitou algumas dúvidas ao longo do tempo, sobretudo aos pais das crianças mais novas que entravam pela primeira vez numa sala de pré-escolar. Após reflectirmos e observarmos o dia a dia, comprovamos que esta foi uma decisão acertada e que traz mais-valias para todos os elementos da sala. As crianças mais velhas sentem-se mais responsáveis por ajudar os “pequeninos” e, por outro lado, os mais novos gostam de imitar os mais velhos e aprender com eles. É neste “confronto”, que as crianças se descobrem a si e aos outros.
A homogeneidade é uma “ficção”, são artifícios como estes que por vezes afastam a escola daquilo que ela realmente é. A escola é vida, no dizer de DEWEY, e é assim que a assumimos. Uma escola que proporciona a “cultura do outro” como modo de compreender singularidades e diferenças, para melhor vivermos em comunidade. Dewey, na sua obra “O meu credo pedagógico”, afirma que grande parte da educação falha porque esquece o principio fundamental da escola como modo de vida comunitária.
Acreditamos que as diferenças nas salas existem a vários níveis, mas que constituem um grande desafio para que todas e cada criança sejam o centro de uma verdadeira pedagogia diferenciada.
Com esta organização dos grupos, o Educador é constantemente desafiado a encontrar estratégias para ouvir cada criança e para aproveitar de uma forma autêntica essa diversidade em toda a dinâmica do dia a dia de uma sala do pré-escolar. Nesta perspetiva, além das mais-valias já descritas para as crianças pertencentes a um grupo heterogéneo, o Educador, ao se constantemente reinventar, também “cresce” com o grupo.

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